quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Lendas Urbanas de Paranapiacaba



As Lendas Urbanas de Paranapiacaba: A Crença Popular


Gustavo Giopato       

Guilherme Ciotto        

Marcello Alexandre     

      Muitos são aqueles que já ouviram uma lenda urbana em suas vidas, desde a estória da loura do banheiro até as assombrosas aparições da Maria Sangue. As lendas se tornam um mistério quando algumas ou mais pessoas passam a acreditar que todos esses contos são parcialmente ou inteiramente reais. É assim que chegamos ao encontro de duas pessoas completamente diferentes entre si, porém, com uma mesma convicção: as lendas urbanas de Paranapiacaba são reais e fantasmas certamente existem.
     O primeiro sujeito, crente em acontecimentos exóticos e/ou paranormais, era uma senhora, já de idade avançada, que usava roupas simples e características de sua idade. Com uma feição alegre e até mesmo assustadora, Dona Francisca possuía um negócio próprio de artesanato e, notavelmente, um de seus passatempos era se encostar na sua humilde varanda, apenas observando o pequeno movimento de pessoas que desaparecia ao se chocar nas nuvens de neblina. Francisca narrava a vinda dos ingleses à Paranapiacaba pelas ferrovias, maior e melhor meio de transporte da época, como se tivesse acontecido a uma semana atrás daquele dia. Ela não só contava, mas também acreditava que fazia-se pouco tempo que havia ido a um baile para comemorar a chegada dos ingleses.
     “Charutos cubanos, perfumes franceses, vestidos abençoados com babados. A ferrovia trouxe os ingleses, que traziam coisas que, nós, aqui do Brasil, não tínhamos. Fomos todos comemorar no Clube do Lira Serrano, dançar a valsa e o belo tango. E que mulher brasileira não curtia uma ''sacanagem''? O jeito era ''furnicar'' no ''furnicular''. E vocês pensavam que mulher brasileira era namoradeira de homem inglês? Eu tinha é que furnicar com o Zé Mané, o bêbado que dizia que só bebia café”. Foram estas as palavras de Dona Francisca, que acreditava que seus momentos com Zé Mané no baile inglês teria ocorrido a apenas uma semana. A senhora também citou inúmeras vezes o aparecimento do fantasma do guarda de Paranapiacaba, que teria sido assassinado. Dizia-se que, todas as noites, ele checava a segurança dos moradores batendo três na primeira camada de madeira das paredes de todas casas. Caso o morador não as retribuísse, o guarda entraria na casa para checar se algo estava acontecendo. Após sua morte, muitas pessoas afirmam ter ouvido os três toques na parede de suas caras, fazendo com que eles retribuíssem as com medo de que o fantasma do guarda entrasse em suas casas, de acordo com Dona Francisca.
      O outro sujeito era, certamente, o oposto de Dona Francisca. Usando camisa e um par de óculos, Marco Aurélio mais parecia um doutor. Apenas parecia. Marco era motorista da ambulância e tinha convicção de que havia experimentado do poder paranormal em uma noite tranquila, enquanto aguardava alguma emergência.
“Como o distrito de Paranapiacaba não tinha hospital, quem ficava doente teria de ir ao hospital de Santo André. Como moro em Paranapiacaba, levo as pessoas até o hospital e volto para minha casa. Muitas vezes, enquanto eu estou voltando em direção à Paranapiacaba, eu ouço pessoas gemendo do ladro de trás e as macas se mexendo, como se alguém que está preso a elas estaria tentando se soltar. Quando olho pelo retrovisor ou pelo pequeno visor que divide a parte da frente e a de trás da ambulância, não vejo ninguém, e as macas estão todas presas. Já pensei várias e várias vezes em trocar a ambulância, mas não acho que esses espíritos tenham a ver diretamente com o carro, mas sim com as mortes que aconteceram durante o percurso Paranapiacaba – Santo André”.
     Marco contava-nos a estória de um modo peculiar: parecia mais um ato cotidiano do que uma tenebrosa lenda urbana, o que a tornava muito mais real. Não acreditamos em fantasmas, muito menos em atividades paranormais. Porém, muitas pessoas como Marco Aurélio e Dona Francisca acreditam friamente que seres que morreram possam vagar pela Terra e até mesmo aterrorizar os vivos. A convicção é tanta que chega a ser assustadora.


“A Noiva chegou...”


A neblina em inglês é conhecida como “fog”. Em indígena como “Cumbica”. Para os operários, de serração (por conta da serra). Por fim os mais velhos da cidade de
Paranapiacaba a conhecem como “Noiva”. A história começa com um amor proibido entre a filha de um operário da ferrovia e o filho do engenheiro-chefe, que era inglês. Sendo a moça católica e o rapaz protestante, ele contraria todas as tradições e aceita se casar com a moça, já marcando o casamento.
          Em conjunto, todos os operários se unem e encomendam um vestido de noiva para a moça de uma estilista famosa da cidade de São Paulo. O véu era tão longo que chegava a ficar fora da porta da igreja.
O casamento seria na parte alta da vila, que era portuguesa. O rapaz teria que se converter ao catolicismo. Todos, até os britânicos, foram prestigiar o casal. De última hora o pai do rapaz não o deixa ir até a igreja, prendendo-o na adega de sua casa (dizem que seu espírito permanece neste local até hoje).
          A Noiva não se casou. Como foi deixada no altar perdeu sua honra, o que faria não poder se casar novamente. Isso a deixou louca. Uma noite ela colocou seu longo vestido e saltou do alto da serra. Desde aquela noite, Paranapiacaba nunca foi a mesma.
           A neblina começou a assombrar os moradores da cidade, dizendo que ela seria o espírito da noiva que surge todos os dias para amedrontá-los, tirando-lhes o sol de cada dia.
              Há também outro final para essa história. Sendo a neblina o espírito da Noiva, ela surge todos os dias para encontrar seu amado. Este fato é curioso, pois a neblina sempre faz o mesmo caminho, surgindo dentre os morros da serra indo em direção a casa do engenheiro-chefe, suposto local em que ele estaria (na adega). 
                                                                                                                            Lucas Albano



Os Mutilados.

Na ferrovia aconteciam muitos acidentes. A neblina sempre contribuía em tais acidentes, já que ela dificultava a visão dos trabalhadores nos trilhos do trem. Com isso os atropelamentos seguidos e mutilações eram freqüentes.
Dizem que se andarmos nos trilhos, muitos já desativados, quando a neblina os domina totalmente, conseguimos ver as imagens das pessoas sendo acidentadas nos respectivos lugares em que isso realmente ocorreu. Ou seja, vemos todos os mutilados da ferrovia, uma imagem que realmente choca.
          Como exemplo, em um dia do sete de setembro, um homem foi atropelado pelo trem, sendo cortado ao meio na altura da cintura. Ele, impressionantemente, ficou vivo durante uma hora, tempo suficiente para chamar todos os seus familiares e ainda avisar onde estava guardado todo o seu dinheiro que serviria como herança. Nesse dia é realizada uma missa em homenagem a ele e todos os mutilados.
                                                                                                                        Lucas Albano

A lenda de João Ferreira.
Por a cidade de Paranapiacaba ser muito úmida, por conta da constante neblina que a ronda, já que se situa em uma região serrana, todas as portas e janelas das casas do local ficam fechadas durante todo o dia, para não entrar umidade em seus interiores. Reza a lenda que um casal foi fazer turismo na região e não encontrou ninguém nas ruas, apenas um senhor alto, magro e branco, vestido de terno e chapéu, que dizia ser um guia turístico da região. Seu nome era João Ferreira. Muito felizes, o casal foi acompanhado pelo guia para a cidade inteira, e puderam sanar todas as dúvidas possíveis sobre o município. Depois de o dia ter passado tranquilamente, os três voltam ao cemitério, local de partida do passeio turístico, se despedem, e João Ferreira some.
Em outra jornada para a região serrana, o casal volta a Paranapiacaba, agora em um dia de sol, e resolve agradecer ao acompanhante pelo dia proveitoso, anterior àquele. Como fazia sol, as casas estavam abertas, porém, nenhum morador dali conhecia o tal João Ferreira. Sem sucesso, a família voltou ao cemitério, para ver se o encontrava novamente, entretanto, não obtiveram êxito novamente. Perplexos, foram até o coveiro que trabalhava ali e perguntaram pelo homem que ninguém conhecia, e, por um momento, encontraram uma resposta. Contudo, o João Ferreira que o trabalhador conhecia, morrera há muitos anos, e ele os levou até a lápide do senhor para verificar. Indignados, o casal reconheceu a foto presente no túmulo, e afirmaram que o cadáver e o guia turístico que os acompanhara eram a mesma pessoa...
                                                                                                                Fabio B. Spanholeto



A lenda do balanço.

Há muito tempo, na Vila Britânica de Paranapiacaba, uma família inglesa morava em frente ao clube Serrano do distrito. Ao lado havia um pequeno parquinho, com caixa de areia, gangorra, gira-gira e balanços...
            Essa familia era composta da mãe, filha e pai. Em um dia com muita neblina, a pequena menina ficou na janela de casa por horas, observando o parquinho. A mãe estava tricotando, e o pai trabalhava na ferrovia. A menina chegou até sua mãe e perguntou se poderia ir ao parque brincar com seu amiguinho, pois ele estava acenando para ela. A mãe, receosa, por conta da neblina, não deixou que a menina saísse de casa.         
            A menina, muito chateada, voltou à janela. A mãe ignorou o fato de a filha passar horas na janela, e continuou seus afazeres.
            Entretanto, nos dias que se sucederam, por volta de uma semana, a menina continuou pedindo à mãe para brincar no parquinho com seu amigo. Até que a mãe, irritada com os vários pedidos da menina, resolveu ir até à janela e tirar satisfações com o garoto.
            Era um dia com neblina, no entanto, não ventava, e a mulher procurava o amigo de sua filha, sem sucesso. Então, a menina, com tranquilidade, apontou para o balanço, e ali não havia ninguém, porém, o banco verde do parquinho balançava, como se uma pessoa estivesse lá... Como se uma criança brincasse nele. A mãe ficou aterrorizada e, rapidamente, retirou sua filha da janela. Depois de um tempo, a família mudou-se daquela casa. Após aquele grupo inglês, nenhum outro voltou a morar na casa. Contudo, diz a lenda que, em alguns dias sem vento, quem passar na frente do parque, ao lado do Clube Serrano, pode avistar o balanço se movendo, um movimento que só poderia ser feito se uma pessoa estivesse ali sentada.
                                                                                                Carlos Eduardo M. Magalhães

Um comentário:

  1. Muito interessante seu Blog. Voce teria uma lista dos sobrenomes ingleses que trabalharam na Sao Paulo Railway ou que moraram nessa Vila about 1930??? Meu avo era ingles, talvez ache alguma pista dele. Por favor, me escreva. miwilly@hotmail.co.uk

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